Essa é a história mais impressionante que eu já acompanhei sobre gatos perdidos e espero que inspire muita gente. Durante 40 dias Priscila Barros Barbosa, moradora de Ipatinga (MG), dirigiu até um posto de beira de estrada, distante 15 km de sua casa, para procurar seu gatinho Mimi. E em algumas ocasiões fez isso até duas vezes por dia (de manhã e à noite) totalizando 60 km.
Se você está com um gatinho perdido precisa "muito" conhecer essa história porque certamente vai lhe dar forças.
Para aqueles que se desesperam ao procurar um gato nas redondezas de casa, imaginem o coração dessa moça tendo que vasculhar um local distante e cercado de mato.
Foi com o emocional destroçado que Priscila entrou em contato comigo para uma consultoria. Na ocasião, ela não só ia até o posto todo dia como também num condomínio distante poucos quilômetros dali na esperança do gato ter seguido naquela direção.
O esforço dela me impressionou logo na nossas primeiras conversas, mas Priscila precisava direcionar toda essa "força, ânimo e coragem" para os locais mais prováveis de se achar o gato. Por isso recomendei que no condomínio deixasse apenas cartazes e se concentrasse no entorno do posto-restaurante porque o gatinho certamente não sairia andando pela estrada. Ele só sairia dali no motor de um carro ou caminhão, o que ainda bem não aconteceu.
Cada detalhe contado pela Priscila serviu para um plano de ação que era, no mínimo, audacioso porque o lugar era vasto, tinha trechos perigosos, muitos prováveis abrigos muito bem escondidos e ainda era o reduto de uma "gangue" de gatos cujo líder tinha dado uma surra no Mimi.
Ao redor do posto havia uma mecânica, uma fábrica, um empresa fornecedora de comida para presídios, ambulância abandonada e matagal além, é claro, da agitada rodovia. Priscila foi explorando cada um desses locais diariamente, distribuindo o cartaz do Mimi e falando com todo mundo que morava, trabalhava ou frequentava o local.
Também a orientei para levar ração e criar alguns pontos fixos de alimentação na esperança do Mimi ter acesso a algum deles ou, pelo menos, mantê-lo naquele pequeno conglomerado já que a tendência é do gato perdido se manter em local onde ele percebe que há oferta de alimento e locais para se esconder.
Dificilmente um gato "clandestino" é aceito numa colônia já estabelecida, mas há sempre a chance de comer restos de comida e é por isso que Mimi provavelmente se manteria naquele ambiente. Inclusive, havia um "lixão" de restos do próprio restaurante que também servia de atrativo para um gato perdido e faminto.
Vale repetir que Priscila fez essa "peregrinação" por mais de um mês e indo até duas vezes por dia naquele local.
Em todo esse tempo foram poucos os contatos de pessoas que achavam ter visto o Mimi e em alguns casos nem era ele, o que frustrava a tutora ainda mais. Priscila teve depressão e até seu outro gato, o Branco (foto baixo), parou de comer.
Mas ela se lembrava de algo que eu disse em nossas conversas:
"Eu não sou uma pessoa otimista e esperançosa, mas me apeguei ao fato da consultora da BuscaCats me lembrar que o Mimi precisava de mim e contava comigo. Somente eu poderia tirá-lo daquela situação. Então não desisti de procurá-lo e, inclusive, uns dias antes de resgatá-lo, fiquei ainda mais ativa porque eu sentia que estava chegando cada vez mais próxima do meu objetivo. Eu dizia para as pessoas que estava perto de achar o Mimi".
Passados 40 dias avisaram Priscila que Mimi estaria num corredor lateral da oficina mecânica.
"Era ele mesmo no fundo de um corredor. Bem magro. Percebi que estava muito mal e fui tentando fazê-lo chegar perto de mim abrindo um sachê. Ele resistiu por uns instantes até que finalmente partiu pro tudo ou nada com suas últimas forças e foi se aproximando. Então o agarrei".
Após devorar a comida Mimi expressou toda sua alegria:
"Ele estava muito carente. Passava a cabecinha dele no meu rosto e pescoço, e também miava muito. Infelizmente ele estava fraco demais e teve que ser imediatamente internado. Então ao mesmo tempo que o reencontrei tive que me separar dele, mas foi necessário porque ele estava muito desidratado e com o estômago dilatado, cheio de conteúdo estranho que podia ser ossos ou outras coisas que ele engoliu para sobreviver".
Mimi foi se recuperando com o tratamento e voltou para a tranquilidade do lar. Branco voltou a comer assim que seu companheiro foi resgatado.
E Priscila finalmente pôde colocar em ordem a casa e a vida.
"Não desistam. Não demorem para procurar seus gatos acreditando que um gato se vira sozinho porque muitos podem morrer quando não são procurados. Mimi foi encontrado quando já estava nas suas últimas forças. Importante lembrar que perdidos e assustados, eles muitas vezes não nos respondem e nem saem de seus esconderijos, mas a gente precisa continuar procurando. É a busca que pode salvar muitos gatinhos ".
E acrescenta:
"Seu gato precisa de você. Então não desista"
Uma pata lava a outra
Nas idas e vindas até o posto, Priscila acabou se tornando a mantenedora da gangue dos gatos e também resgatou uma gatinha que sofreu alguma maldade ou passou por algum acidente grave:
"Ela era muito boazinha. Cheguei a vê-la prenha. Mas de repente ela apareceu com a parte traseira toda estourada e cheirando podre. Levei no veterinário e ela teve que amputar o rabo. Agora carece de adoção".
E assim Priscila, ao tentar salvar seu gato, acabou salvando também a vida de outra gatinha e a dela própria porque já estava, como ela mesma conta, com a vida e a casa viradas de ponta-cabeça.
À propósito, gostaria de acrescentar que não é primeira vez que vejo isso acontecer. Já recebi vários relatos de tutores que em busca do gato perdido acabaram adotando ou salvando outro gato que surgiu no caminho porque, afinal, uma pata lava a outra e assim que deve ser.
Texto: Fátima ChuEcco, jornalista especializada em gatos, consultora sobre gatos perdidos e fundadora da BuscaCats
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